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Inteligência Artificial no Calçado

segunda-feira, 24 de junho de 2024
Quando aplicada à indústria do calçado, a inteligência artificial tem um potencial revolucionário, atuando em diversas áreas como o design do produto, seleção de materiais, análise do mercado, gestão da cadeia de fornecimento, controlo de qualidade, manufatura, personalização e sustentabilidade. Existem já diversos exemplos reais deste potencial.
Inteligência Artificial no Calçado

A inteligência artificial (IA) refere-se à teoria e desenvolvimento de sistemas computacionais capazes de desempenhar tarefas complexas que, historicamente, requerem inteligência humana, tais como raciocinar, tomar decisões ou resolver problemas. Os termos 'inteligência artificial', 'machine learning' e 'deep learning' são frequentemente usados como sinónimos, apesar de terem definições distintas. Machine Learning é um subcampo da inteligência artificial que utiliza algoritmos treinados com dados para produzir modelos adaptáveis capazes de desempenhar uma variedade de tarefas complexas. Já o Deep Learning é um subcampo do Machine Learning que utiliza redes neurais com três ou mais camadas, numa tentativa de mimetizar a aprendizagem humana digerindo e analisando quantidades massivas de informação.

Apesar de ser um termo bastante em voga na atualidade, o conceito de objetos inanimados dotados de inteligência remonta aos mitos da Grécia antiga. Entre o final do século XIX e primeira metade do século XX foram desenvolvidos os fundamentos que dariam origem ao primeiro computador moderno. Na década de 50, Alan Turing criou o Teste de Turing, que visava determinar se um computador possuía inteligência. Em 1956 o termo "inteligência artificial" é cunhado por John McCarthy na conferência da Universidade de Dartmouth. Avanços na década de 90 combinando grandes conjuntos de dados e poder computacional impulsionaram áreas como processamento de linguagem natural, visão computacional e machine learning. A partir do ano 2000, outros avanços nestas áreas deram origem a produtos e serviços que moldaram a forma como vivemos hoje. Na década década de 2010, assistentes de voz como Siri e Alexa foram lançados, carros autónomos foram desenvolvidos e sistemas de IA foram implementados na deteção de cancro. Na década atual, é notória a ascensão da IA generativa, um tipo de tecnologia que produz novo conteúdo em diversos formatos a partir de um comando.

A IA é já prevalente em muitas indústrias, auxiliando na automatização de tarefas que não requerem intervenção humana. A vantagem traduz-se na poupança de tempo e dinheiro, bem como na redução do erro humano. Exemplos incluem a indústria financeira, com a deteção de anomalias ou padrões que sinalizem comportamento fraudulento, a indústria da saúde com robôs que conseguem auxiliar cirurgias, mitigando a perda de sangue ou risco de infeção e a indústria do retalho com sistemas de recomendação de produto, assistentes de compra e reconhecimento facial para efetuar pagamentos. Na indústria da manufatura em particular, a inteligência artificial atua na redução de erros de montagem e de tempos de produção, enquanto aumenta a segurança do trabalhador. Sistemas de IA podem monitorizar o chão de fábrica auxiliando na identificação de incidentes, no controlo de qualidade e na previsão de potenciais falhas do equipamento. É também o que impulsiona os robôs de fábrica e de armazém, que automatizam fluxos de trabalho e desempenham tarefas perigosas.

Quando aplicada à indústria do calçado, a inteligência artificial tem um potencial revolucionário, atuando em diversas áreas como o design do produto, seleção de materiais, análise do mercado, gestão da cadeia de fornecimento, controlo de qualidade, manufatura, personalização e sustentabilidade. Existem já diversos exemplos reais deste potencial.

Um exemplo é a Nike, que através da utilização de IA atua em várias frentes de forma a estreitar a relação da marca com o consumidor. A marca permite ao cliente customizar as suas sapatilhas na loja física em menos de 2 horas (The Nike Maker Experience), criar e partilhar o design do seu sapato online (Nike by You), obter recomendações direcionadas ao tamanho do seu pé a partir de uma fotografia do mesmo (Nike Fit) e, para os clientes mais leais, o acesso exclusivo a novos lançamentos bem como recomendações de equipamento feitas por especialistas (Nike+).

O programa NewArc.ai é outro exemplo. Recorre à inteligência artificial para transformar um rascunho numa imagem em segundos. O utilizador apenas necessita de fornecer uma imagem, ilustração ou rascunho e escrever um comando definindo a estética, materiais e cores que deseja ver no resultado. Com base no input recebido, o algoritmo gera uma variedade de opções únicas de design. É possível retocar a descrição conforme necessário para originar mais conceitos, repetindo o processo até obter o resultado desejado. Apesar da IA ser capaz de gerar designs, requer sempre a visão e instruções claras do criado para o fazer.

Na vanguarda da inovação em tecnologia fitness, encontra-se a empresa Volumental que utiliza tecnologia avançada como visão computacional e inteligência artificial para fornecer recomendações personalizadas de tamanho e estilo aos seus clientes. Os scans de pés da Volumental, obtidos através da tecnologia FitTech, capturam dez pontos cruciais de dados. As suas recomendações de calçado baseadas em IA são treinadas com dados de mais de 45 milhões de scans de pés 3D, que são combinados com milhões de compras passadas bem-sucedidas em várias categorias, marcas e estilo de calçado, com o objetivo de ajudar cada comprador a encontrar o ajuste perfeito.

Por último, o Sensor Arc5 desenvolvido pela Plantiga Technologies consiste num pequeno sensor que pode ser incorporado em qualquer tipo calçado através de uma palmilha, para recolher dados em movimento até 12 horas. Estes dados são úteis visto que permitem a especialistas (podologistas e especialistas de equipa desportiva) prever resultados de reabilitação, risco de lesões/quedas, progressão de doença e otimização de performance. Entre outras funcionalidades, o modelo IA aprende a forma como a pessoa se movimenta, monitoriza o seu movimento procurando por alterações, sugere áreas que precisam de ser reforçadas e avalia a força dos seus membros.

As perspetivas futuras para inovação e avanço desta área parecem ser promissoras. Desde a utilização de IA para o design de meta materiais (útil no design de solas), até a classificadores de imagem que distinguem entre calçado contrafeito e calçado verdadeiro, passando por árvores de decisão que auxiliam as empresas a prever a qualidade do calçado, diminuindo a quantidade de desperdícios e defeitos.

Em suma, a Inteligência Artificial representa uma força transformativa na indústria do calçado, oferecendo vantagens que se estendem à personalização do design, eficiência do processo de manufatura, experiência do consumidor e sustentabilidade. Olhando para o futuro, as oportunidades para inovação e melhoria são infinitas, prometendo uma nova era de calçado que é não só mais pessoal e sustentável, mas também mais acessível.

Este artigo foi desenvolvido no âmbito do projeto FAIST- Fábrica Ágil, Inteligente, Sustentável e Tecnológica, investimento apoiado pelo PRR - Plano de Recuperação e Resiliência e pelos Fundos Europeus NextGeneration EU. Para mais informação consulte o website recuperarportugal.gov.pt.

 Para mais informações contacte-nos através do e-mail [email protected]

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