A crescente preocupação com as alterações climáticas e a necessidade de alinhamento com as metas climáticas, nacionais e europeias, impulsionam a transição energética e a descarbonização da economia.
O caminho para esta descarbonização exige passar por um processo de transição energética de forma a promover a redução das emissões de gases com efeito de estufa (GEE). Este processo baseia-se numa aposta na eficiência energética e na eletrificação proveniente de fontes alternativas às fontes fósseis, isto é, energias limpas e renováveis que se regenerem naturalmente com o tempo e não se esgotem.
Neste âmbito, o Plano Nacional de Energia e Clima 2023 (PNEC 2030) figura como o principal instrumento da política energética e climática de Portugal para atingir a neutralidade carbónica. As metas nacionais focam-se na melhoria da eficiência energética e na incorporação de energias renováveis, abrangendo todos os setores de atividade da economia.
Na sua revisão de outubro de 2024, foram estabelecidas metas mais ambiciosas, nomeadamente a redução de emissões de GEE até 2030, que passou de 45% para 55%, e a incorporação de energia de fontes renováveis no consumo final bruto de energia, de 47% para 51% – objetivos definidos face a níveis de 2005.
Neste seguimento, o PNEC 2030 antecipou a meta da neutralidade carbónica para 2045, refletindo a aposta estratégica nas renováveis e o seu potencial de atração de investimento, em alinhamento com a necessidade de reduzir a importação de combustíveis fósseis e a dependência energética de Portugal.
Segundo a REN – Redes Energéticas Nacionais,
2024 ficou marcado pelo recorde na produção de renováveis, que abasteceram 71% do consumo nacional, impulsionado pelo crescimento das infraestruturas e instalações, e pelas condições globalmente favoráveis verificadas.
As centrais hídricas e eólicas representaram, respetivamente, 28% e 27%, enquanto as fotovoltaicas ficaram próximas dos 10% e as de biomassa dos 6%. A produção não renovável representou apenas 10% do consumo, dados que demonstram uma trajetória positiva do desempenho de Portugal relativamente às energias renováveis. Não obstante, a descarbonização de setores que não dependam da eletricidade, como o dos transportes, continua a ser um desafio.
O Roteiro para a Descarbonização da Fileira do Calçado encontra-se alinhado com os supramencionados desafios e metas, estabelecendo um plano para reduzir as emissões de GEE em 72,5% até 2050, comparativamente a 2005.
Face às suas características, o setor do calçado apresenta uma elevada predominância do consumo de eletricidade que, de uma forma geral, representa mais de 80% do consumo total de energia das indústrias da fileira. Deste modo, o caminho para a descarbonização da fileira do calçado exige uma aposta na redução dos consumos através de medidas de eficiência energética e da promoção da utilização de energia renovável; e através da utilização de sistemas de autoconsumo renovável.
Estas medidas estão em total alinhamento com os desígnios nacionais e permitirão tornar o setor do calçado mais sustentável e competitivo.