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Este chinelo é uma sapatilha que ia para o lixo

terça-feira, 2 de agosto de 2022
Este chinelo é uma sapatilha que ia para o lixo

A ideia de fazer produtos a partir de pneus nasceu há dez anos. Agora, a Indosole tem um novo desafio: aproveitar calçado novo, com defeito, que estava destinado à lixeira.

Kyle Parson viajava por Bali, há dez anos, quando os únicos chinelos que tinha consigo rebentaram. Num passeio pelo comércio local, todas as lojas vendiam chinelos de plástico, mas houve uma particularidade que chamou a atenção. Kyle notou que os vendedores calçavam chinelos feitos com borracha de pneu e corda.

O insólito deixou-o curioso. Foi pesquisar. Os números assustaram-no. Em Bali, por produção própria ou por lixo enviado de países desenvolvidos, acumulam-se mais de um bilião de pneus. “O suficiente para cobrir a ilha duas vezes”, realça João Mesquita, amigo de Kyle e responsável da Cool and Functional, distribuidora da marca Indosole na Península Ibérica.

O sonho de aproveitar o lixo abundante para produzir chinelos tornou-se realidade em 2004. Os meios tecnológicos e o conhecimento da Indosole foram evoluindo e, hoje, conseguem reaproveitar os pneus na totalidade. Mas queriam ir mais além e surgiu a ideia de dar segunda vida a outro lixo acumulado na Indonésia – sapatilhas novas que saem com defeito e vão parar aos aterros. “Uma prática de quase todas marcas conhecidas do público”, assinala o responsável. “Recolhemos esse lixo e aplicamos a mesma tecnologia dos pneus.”

O novo projeto surgiu há cerca de dois anos, mas só no ano passado foi lançada a primeira coleção de chinelos feitos a partir de sapatilhas. Mas a ação a favor do planeta não se fica por aqui. “Trabalhamos com uma associação local que limpa os afluentes dos rios e todo o lixo é reaproveitado.” Do plástico fazem uma espécie de linho, utilizado nas fivelas e presilhas. Há ainda novidades a caminho, como calçado feito de algas e o aproveitamento da tinta libertada pelas calças de ganga.

O crescimento, garante João Mesquita, é para ser “lento e consciente”. “Não queremos ser uma marca de fast-fashion.” A maior presença da Indosole situa-se no mercado asiático e nos Estados Unidos, mas também chega à Europa. Em Portugal, são cerca de 50 os pontos de venda onde é possível encontrar estes chinelos.

Todas as embalagens, etiquetas e expositores são de cartão reciclado. E até o transporte é pensado ao pormenor. “Como só produzimos uma coleção, temos tempo suficiente para receber as encomendas”, explica Catarina Neves, uma das responsáveis nacionais da marca. Por isso, da Indonésia para a Europa, utilizam o comboio para transportar mercadorias. “Não corremos contra o tempo e não fazemos stocks.” Mas João Mesquita alerta: “Se estamos a ter sucesso é porque há muito lixo, o que é mau. Viveremos apenas enquanto ele existir.”

Fonte: Notícias Magazine
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