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As empresas que fazem os sapatos da Guess, Paul Smith e Camel

As empresas que fazem os sapatos da Guess, Paul Smith e Camel

Fortunato Frederico, Sérgio Cunha, Reinaldo Teixeira e Armindo Costa. Conhece estes nomes? São os donos das empresas Kyaia, Máximo Internacional, Carité e ACO e alguns dos principais responsáveis pelo aumento das exportações de calçado português que, no ano passado, bateram um máximo histórico de 1,7 mil milhões de euros e acumulam, só nos últimos três anos, um crescimento de 28%. Quase tudo o que produzem é para exportar. 

A Carité - inspirado no nome das filhas Carina e Teresa - é um grupo com quatro fábricas que emprega quase 300 pessoas. Com uma produção de 2500 pares de sapatos por dia, fornece a Guess, Gianfranco Ferré, Paul Smith e Just Cavalli e as suas próprias marcas: Stilleto, J. Reinaldo e Ten Toes. Faturou 22 milhões o ano passado, 99% na exportação. É das poucas que assume as grandes marcas que fornece.


A Kyaia só produz para uma marca além das suas, a Camel, e em resultado de uma “relação de amizade e fidelidade com mais de 25 anos”. E "representa relativamente pouco, 6% a 7% no universo total", diz Fortunato Frederico. Com 343 trabalhadores e cinco fábricas, faz os sapatos Fly London e Softinos e exportou mais de 30 milhões em 2013.


 A ACO, especializada em calçado ortopédico e de conforto para senhora, chegou a fornecer sob a designação Hush Puppies para a Alemanha e Suécia, mas maioritariamente vende sapatos das suas marcas, ACO, Acoped, Confort, etc. Com três fábricas, uma das quais em Cabo Verde, emprega quase 800 pessoas e exportou, o ano passado, 26,5 milhões de euros. Só para a Europa foram milhão e meio de sapatos. 


Sérgio Cunha, da Máximo Internacional, tem três fábricas e uma trading e fatura 45 a 50 milhões. Detém a Nobrand, a marca portuguesa de calçado que “mais vende” na Alemanha e à qual afeta 40% a 50% da sua produção. O resto é private label, a produção sob marca do cliente, para "grandes marcas italianas", mas não identifica, por razões de confidencialidade.


Garante que muitos consumidores portugueses que pensam estar a usar sapatos de luxo italianos poderão ter a "agradável surpresa" de verificar que são made in Portugal. E a verdade é que, não é segredo, há muitos anos, grandes nomes como Armani, Prada, Versace, Dolce & Gabbana, Hugo Boss ou Louis Vuitton, entre outros, se abastecem no nosso país.


E a que se deve o sucesso das exportações de calçado? Para Reinaldo Teixeira, da Carité, o segredo está na "dedicação e paixão" dos industriais e na sua capacidade de acreditar. "Em plena crise contratei 150 pessoas e continuo a contratar. Não se pode ficar parado, a dizer mal da vida, é preciso ir às feiras e não desistir. Porque ninguém tem a fórmula do sucesso", assegura. Em cinco anos, praticamente duplicou o número de trabalhadores.


A atestar a vertente internacional da indústria de calçado estão não só os números das exportações – o sector vende mais de 95% da sua produção para 132 países -, mas também da crescente presença das empresas portuguesas em certames internacionais: em 1999, houve 285 participações de 88 empresas em 25 feiras; em 2013 foram 600 participações de 150 empresas em 70 feiras em todo o mundo.
Não admira, por isso, que a Kyaia tenha uma equipa de três pessoas encarregada da promoção externa e que passa meio ano fora do país. Além de participar nos certames em que a associação do calçado promove a presença portuguesa, com o apoio do programa Compete, o grupo faz mais 20 ou 30 feiras por sua iniciativa.


"Não há aqui teorias em excel, é tudo trabalho e canseira. É preciso viajar muito e não desistir. Andamos quatro anos a fazer feiras em Nova Iorque e em Las Vegas sem vender um par de sapatos, mas acabou por dar resultados. A faturação que perdemos em Portugal, com a crise, duplicamo-la nos EUA e no Canadá", explica Fortunato Frederico.
O empresário aponta, ainda, a necessidade de "satisfazer" os clientes, fazer as entregas no "tempo certo" e "conhecer os gostos" dos consumidores. Sem esquecer, claro, que os trabalhadores são "parte fundamental" da equipa. "Sem eles, nada se consegue". Só em 2013, aplicou quase um milhão de euros em promoção externa, um terço do qual apoiado pelo programa Compete: "O problema é que o tecido empresarial é constituído por pequenas e médias empresas (PME), muitas delas sem a robustez necessária para suportar este tipo de custos", reconhece.

Sérgio Cunha, da Nobrand, fala em paixão e persistência, mas também em “conhecer muito bem o mercado”. E elogia o “trabalho de base” da APICCAPS, “das poucas” associações em Portugal que, a cada dez anos, "apresenta um plano diretor, com objetivos e metas a cumprir". Um "guia de trabalho" que ajudou o sector a chegar onde está.


"Sabemos trabalhar o couro. Temos um know how e uma experiência adquirida ao nível dos acabamentos diferenciados que só os italianos conseguiam fazer. Não é, por acaso, que Itália é um dos grandes importadores de calçado português. Há grandes marcas de renome mundial que vêm fazer os seus sapatos em Portugal", refere o empresário, que todos os anos afeta 500 a 600 mil euros para a promoção.

Armindo Costa, da ACO, imputa grande parte do sucesso da sua empresa à componente social "muito forte" que imprime na empresa, que disponibiliza cantina, infantário, médico e enfermeira em permanência aos funcionários. "As mães sentem-se apoiadas e praticamente não faltam", diz. Uma rede de agentes "agressivos", uma boa relação qualidade/preço e uma "ligação muito próxima, personalizada" com os clientes, fazem o resto. "Eles conhecem-nos, sabem do que somos capazes. Quando nos comprometemos, não falhamos", frisa.

Fonte: Dinheiro Vivo,22.fev.2014
Data Publicação: segunda-feira, 24 de fevereiro de 2014
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