Cada vez mais empresas apostam no fabrico de calçado ecológico. Cortiça e pneus são os materiais de eleição
Já lá vai o tempo em que uns sapatos tinham de ser só bonitos e confortáveis para serem sucesso de venda. Agora, a parte ecológica pesa cada vez mais no fabrico de calçado em Portugal, que continua a ter a fama de ser um dos melhores a nível mundial, com as exportações, no ano passado, a ultrapassarem a fasquia dos 1700 milhões de euros. Juntando a comodidade às preocupações ambientais, o Centro Tecnológico do Calçado de Portugal (CTCP) criou o rótulo ecológico Biocalce. A etiqueta serve para identificar os sapatos que respeitaram o meio ambiente durante o seu processo de confeção.
"A preocupação com o produto envolve todas as fases de confeção, desde o design, momento em que são escolhidos os materiais a usar, até à forma como o calçado é fabricado", explicou ao i Maria José Ferreira, diretora da unidade de novos materiais do CTCP. E já existe uma grande quantidade de empresas a apostar em materiais recicláveis, principalmente para as solas, conta a responsável do centro. "Mais de 60% das solas usadas hoje em dia e que parecem borracha são, na verdade, feitas de materiais termoplásticos e recicláveis. Mesmo quando se usa borracha tenta-se sempre que seja também reciclada." Os apontamentos exteriores privilegiam igualmente materiais naturais, como o linho ou o algodão.
A opção serve não só para criar uma alternativa ambiental mais sustentável como também para promover um marketing verde que seduz cada vez mais consumidores dispostos a pagar esse preço: "Os sapatos ecológicos podem, por vezes, ter um custo superior, mas por ser um produto novo e amigo do ambiente, atrai mais público." Essa vantagem vem colmatar os custos elevados da produção ecológica. "Tentamos que os valores sejam o mais próximo possível dos outros materiais, mas nem sempre é possível. Se o valor for 5% mais elevado vale a pena a comercialização, mas se estivermos a falar de produtos que custam o dobro, a venda já não é viável."
GreenBoots
Reciclar a tradição para a levar além fronteiras
Fazendo jus ao nome, tudo na produção da marca “Greenboots” é “green”. As botas são feitas à mão por artesãos de uma fábrica da Benedita, freguesia de Alcobaça historicamente conhecida pela sua tradição na área do calçado.
“Esteve sempre definido como missão criar um produto amigo do ambiente, que pudesse de alguma forma inserir-se numa linha de pensamento de que é possível produzir artigos com personalidade, de maneira sustentável”, explicou ao i Pedro Olaio, o rosto mais visível de um projeto que conta agora com cinco colaboradores.
As solas das botas são feitas de borracha de pneu, “material que de outra forma se apresentaria como um elemento descartável e poluente”, contou o responsável. Os forros das botas são 100% algodão e os isolamentos feitos de cortiça. Pedro acrescenta ainda que usam peles de animais na produção do calçado, “num processo que, agradando a mais ou a menos pessoas, é natural e intrinsecamente humano”. Estão representados em algumas lojas em Portugal, apesar de o foco estar no mercado internacional, com parceiros em Inglaterra, França, Itália, Alemanha, Lituânia, e brevemente Venezuela e Canadá.
Walk in my shoes
Da comida para os sapatos: a colecção vegan
Sandra Cóias decidiu criar uma linha de calçado que reflectisse a sua filosofia de vida. “Sou vegan, ‘mãe’ de 17 cães e gatos e como todas as mulheres adoro sapatos”, confessa. A actriz é embaixadora da boa vontade da EFAO em Portugal pelos Animais e pela Natureza, embaixadora da WWF na Hora do Planeta, e ainda embaixadora do Grupo Earth Water em Portugal. Ao criar uma marca de sapatos - a “Walk in my shoes” - quis recusar o uso de qualquer produto de origem animal, dando prioridade aos que respeitem o ambiente. Em substituição, são usadas microfibra italiana e peles sintéticas. As solas também são ecológicas, não contendo derivados de petróleo.
A trabalhar com duas fábricas em São João da Madeira, a venda em loja é para já exclusiva em Berlim e Áustria, apesar de estar para breve a comercialização em lojas nacionais. Por cada par de sapatos “Walk in My Shoes” vendidos, será feita uma doação de parte do valor da venda a associações ou causas para a proteção e defesa dos animais. “Acredito que nós podemos fazer a diferença, respeitando os animais e honrando a sua beleza”, rematou Sandra Cóias.
NAE
A marca compatível com pessoas e animais
A marca surge depois do casamento de uma portuguesa e um espanhol. Paula e Alejandro Pérez imaginaram a “nae” em 2008 e em 2009 foi lançada a primeira coleção com a vertente vegan e ecológica. Alejandro apresenta a marca como sendo amiga dos animais e das pessoas: “Não utilizamos nada com origem animal e, além disso, os nossos produtos são elaborados em fábricas de Portugal, onde os direitos laborais são totalmente respeitados”. Materiais como a cortiça, linho, algodão orgânico, madeira ou borracha natural, pneus reciclados e microfibras ecológicas são os mais utilizados, o que torna a produção mais cara. “Os produtos são muito mais caros por serem naturais, orgânicos, biodegradáveis ou reciclados, assim como o processo de fabrico”, salientou.
Apesar de o calçado da “nae” ser 100% produzido em Portugal, é lá fora que as vendas são mais significativas. Existem pontos de venda em Lisboa, Funchal, Coimbra e Castelo Branco. No estrangeiro está presente em mais de 40 lojas, a maior parte na Europa, mas também nos Estados Unidos e Austrália.
Softwaves Green Edition
Transformar uma marca para a tornar mais verde
A Softwaves®, marca mãe da empresa Comforsyst SA está já consolidada no mercado, vendendo em cerca de 40 países e uma média de 150 mil pares ano. Houve então uma necessidade de criar, dentro da mesma base, outros argumentos de venda, válidos e sustentáveis. A aposta em calçado ecológico veio através da parceria com o Centro Tecnológico do Calçado de Portugal no projecto BeNature, que visa encontrar novas soluções, mais ecológicas, na produção de calçado. Cortiça, madeira, linho, algodão, ceras de abelha naturais, acabamentos com base aquosa e vegetal são alguns dos materiais mais utilizados. “O resultado é inspirador, com muita cor e ideias inovadoras. Exploramos as combinações de materiais até à exaustão com misturas muito pouco prováveis mas que por isso são originais”, contou ao i Orlando Santos, brand manager da empresa.
O calçado “green” começou há dois anos a ser introduzido em algumas lojas da marca no estrangeiro. Em Portugal, a apresentação da edição especial foi feita através das redes sociais.
“Temos neste momento uma equipa dedicada ao Facebook que gere os pedidos e vendas através deste canal”, acrescentou.