As vendas do setor do calçado português para o exterior no início de 2025 revelam uma tendência positiva, depois de um crescimento de 14% das exportações no último trimestre de 2024. Segundo o INE – Instituto Nacional de Estatística, Portugal exportou, em janeiro, 7 milhões de pares de calçado, no valor de 161 milhões de euros, o que representa um crescimento de 8,2% face ao período homólogo do ano transato.
Conforme o Boletim Trimestral de Conjuntura da APICCAPS, editado em parceria com a Universidade Católica do Porto, relativo ao último trimestre de 2024, a avaliação que as empresas portuguesas de calçado faziam da conjuntura era “consideravelmente melhor do que no período homólogo do ano anterior, indiciando melhorias”.
Já no início de 2025, “quase metade das empresas [47%] acreditam que o estado dos negócios será satisfatório, sendo que um quarto prevê que será bom”. Acresce que “quando sondadas para estabelecerem uma comparação entre o estado de negócios que esperam para o primeiro trimestre de 2025 e o verificado no trimestre homólogo do ano anterior, o número de empresas que creem que será melhor é superior às que julgam o contrário, denotando uma tendência de melhoria da conjuntura”.
Relativamente às limitações sentidas pelas empresas do setor, “as previstas para o primeiro trimestre de 2025 são muito semelhantes às sentidas no final de 2024”, sendo que “a maior diferença prende-se com o aumento das dificuldades relacionadas com legislação fiscal, que 18% das empresas prevê enfrentar, quando apenas 13% diz tê-las sentido no trimestre transato”.
“Embora menos frequentes [9%], as referências a dificuldades relacionadas com a legislação laboral também registam um aumento face ao final de 2024”, lê-se.
Ao nível do mercado, há um pequeno acréscimo nas referências à escassez de encomendas de clientes estrangeiros (de 63% para 65%), mas um – igualmente diminuto – decréscimo nas que são feitas à escassez de encomendas de clientes nacionais (de 47% para 44%).
Quanto aos fatores de produção, observa-se um ligeiro crescimento das preocupações com o preço e abastecimento de matérias-primas (de 34% para 35%) e uma diminuição das referências a escassez de mão de obra qualificada (de 13% para 12%).
Luís Onofre: “Últimos meses foram já de recuperação”
Luís Onofre, presidente da APICCAPS, relembra que “continuamos a viver um momento de grande incerteza, seja de geoestratégia ou de cariz conjuntural, que penaliza os setores altamente exportadores, como o do calçado”. Porém, afirma que “os últimos meses foram já de recuperação para o setor, que exporta mais de 90% da sua produção”.
“Temos a expectativa de que possamos consolidar este registo nos próximos meses, que serão, ainda assim, duros face ao contexto externo. As empresas estão a fazer o seu ‘trabalho de casa’, investindo no reforço da capacidade produtiva ou no processo de internacionalização”, destaca Luís Onofre.
Importa que “o Estado faça o mesmo”. “Precisamos de estabilidade política, de um Governo capaz de colocar o crescimento económico como desígnio nacional, colocando ao serviço das empresas todos os instrumentos financeiros como o PRR ou o Portugal 2030 para relançamento da atividade exportadora”.
Não obstante, há um apontamento de particular preocupação relativamente ao facto de os principais mercados europeus – fundamentais para a indústria portuguesa do calçado – continuarem a demonstrar desempenhos pouco dinâmicos.