A reciclagem de excedentes, subprodutos ou resíduos desempenha um papel crucial na otimização do uso de materiais permitindo a redução do impacto ambiental e é fundamental para a economia circular, especialmente em setores que geram grandes volumes de resíduos. Estes processos permitem prolongar o ciclo de vida dos materiais e a criação de alternativas para a redução de excedentes de produção.
O processo de reciclagem no setor do calçado valoriza os excedentes de produção, produtos não-conformes e calçado pós-consumo. Esses excedentes são cuidadosamente separados conforme a sua composição e encaminhados para reciclagem. Na sua generalidade, o processo de reciclagem divide-se em várias fases:
1. Separação dos Materiais: Os excedentes são separados de acordo com a sua composição, como borracha, couro, plásticos e tecidos. Essa separação é essencial, uma vez que cada material requer um processo de reciclagem distinto.
2. Moagem/Trituração: Após a separação, os excedentes passam por um processo de moagem, onde são triturados em partículas de menores dimensões.
3. Desenvolvimento de formulações: Inclui a adição de aditivos específicos que permitem valorizar os constituintes do material e/ou ajustar as propriedades físicas e químicas do material. A adição de aditivos permite melhorar a durabilidade, elasticidade e resistência do produto final.
4. Processamento termomecânico e/ou químico: O material reciclado é processado e/ou injetado novamente, sendo moldado em placas ou componentes (solas, palmilhas, entre outros).
5. Controlo de Qualidade: Permite garantir que as características do novo material estão de acordo com os padrões exigidos, assegurando que o produto com material reciclado tenha um desempenho e aparência semelhantes aos produtos de materiais virgens.
Em complemento, a compostagem surge como uma solução inovadora para o fim de vida de materiais compostáveis. No setor do calçado, esse processo é particularmente relevante para materiais que foram desenvolvidos com foco neste processo, como polímeros, compósitos com fibras vegetais ou alguns tipos de couro tratado para desintegração "natural" em condições de compostagem.
A compostagem permite transformar materiais em nutrientes para o solo, estudos baseados de acordo com a norma internacional 20200 realizados em condições ideais num ambiente controlado e aeróbico, essenciais para o processo de compostagem. As amostras são dispostas num substrato e colocados a uma temperatura de 50 +/- 2ºC durante períodos de 45 a 84 dias. O composto resultante pode ser utilizado como corretor de solos ou fertilizante.
A incorporação de práticas de reciclagem e compostagem contribui diretamente para a sustentabilidade do cluster do calçado, como alternativa aos métodos tradicionais de descarte, em aterros sanitários. Estas práticas também promovem a economia circular, na qual os produtos e materiais são utilizados o maior tempo possível, reduzindo a necessidade de extração de novos recursos.
Associados a estes processos estão benefícios económicos e ambientais, visto que o reaproveitamento de materiais reduz a necessidade da utilização de matéria-prima virgem e os custos de produção; redução das emissões de gases com efeito de estufa da degradação ambiental; a incorporação de materiais biodegradáveis e práticas sustentáveis ajuda as empresas a destacar-se num mercado onde o consumidor está cada vez mais preocupado com a sustentabilidade.
Apesar dos benefícios, existem alguns desafios para a implementação destas práticas, como é o caso da complexidade da separação dos materiais que, por vezes, exigem tecnologias avançadas e altos investimentos.
Com o aumento da consciencialização sobre a importância da sustentabilidade, é provável que estes processos continuem a evoluir, direcionando o setor do calçado a novas práticas de ecodesign, novos materiais e melhores processos de reciclagem. Tudo isto contribui para uma economia circular, que valoriza os recursos naturais e minimiza o desperdício em todas as etapas da cadeia produtiva.