O mercado de alternativas biogénicas e sintéticas ao couro está a aumentar com o objetivo de substituir materiais de origem animal por alternativas vegan. Paralelamente, as matérias-primas de base biológica devem ser usadas em vez de matérias-primas sintéticas de origem fóssil. Michael Meyer, Sascha Dietrich, Haiko Schulz e Anke Mondschein, cientistas alemães do Instituto Filk, em Freiburg, na Alemanha, estudaram a as alternativas existentes no mercado e destacam couro como produto mais viável do mercado.
Neste estudo comparativo, foram investigados couro e nove materiais alternativos (Desserto®, Kombucha, Pinatex®, Noani®, Appleskin®, Vegea®, SnapPap®, Teak Leaf® e Muskin®), analisando a estrutura e o desempenho técnico dos materiais, ao nível da permeabilidade ao vapor e absorção de água e testes fisico-mecânicos normalizados. Feitas as contas “nenhuma das alternativas ao couro apresentou o desempenho universal do couro”.
Os materiais testados neste estudo são aplicados habitualmente para fabricar bens de consumo de moda como sapatos, bolsas, roupas e acessórios. Por esse motivo, foram discutidas propriedades funcionais e aparência. “Embora a construção do material influencie principalmente as propriedades funcionais, a aparência é marcadamente um resultado das propriedades da superfície. Ambos os grupos de propriedades variaram numa escala muito ampla, embora os materiais sejam oferecidos para aplicações finais semelhantes. Analisar a composição, a construção, as superfícies e o tato permitiu-nos comparar os materiais relativamente ao seu possível desempenho”, explicam os cientistas no relatório.
Alguns materiais alcançaram altos valores nas propriedades selecionadas, “especulando-se que a estrutura desenvolvida de multicamadas do couro com uma superfície muito fechada e um gradiente de densidade estrutural ao longo da secção transversal, origine esse desempenho universal”. Até ao momento, “esta estrutura não pode ser conseguida nem com materiais sintéticos nem com materiais de base biológica”.
De acordo com os especialistas alemães, “uma economia circular visa o reaproveitamento de materiais consumidos e, idealmente, os ciclos do produto fecham-se de acordo com o principio cradle-to-cradle”. Ora, “o couro é um material de base biológica e biodegradável com uma tradição quase tão longa quanto a da humanidade”.
Nas conclusões do Estudo “Comparação do desempenho técnico do couro, imitação artificial de couro e alternativas na moda”, Michael Meyer, Sascha Dietrich, Haiko Schulz e Anke Mondschein, concluem que “nenhum dos materiais alternativos atingiu as propriedades do couro de acordo com os valores de referência aplicados, embora muitos deles sejam oferecidos como uma alternativa ao couro”. Ainda assim, “alcançar essas propriedades por materiais naturais alternativos é difícil”, na medida em que “o couro e? um material em varias escalas, projetado pela natureza para cumprir as funções de transferência de carga e metabólicas. Apresenta um gradiente na rigidez da estrutura composta por diferenciadas fibras finas de proteínas hidrofílicas”. Já nos têxteis não tecidos biogénicos (Pinatex®, SnapPap® e Kombucha) apresentam valores de absorção de água semelhantes aos do couro, mas carecem de resistência mecânica e à flexão”, não sendo por isso tão duradouros.
Nesse sentido, “permanece um desafio e um objetivo reproduzir a função da estrutura biónica da pele com técnicas biológicas alternativas”. Acresce que “quando subprodutos agrícolas são adicionados a camadas de polímero de material artificial a imitar couro, o conteúdo de base biológica dos materiais é aumentado, mas não pode ser medida nenhuma vantagem física sobre o material de referência. Apenas uma análise adequada do ciclo de vida permitiria avaliar a vantagem associada”.
De acordo com Gonçalo Santos “o couro é um material único, cultural, histórico e com uma presença que acompanha a humanidade”. “Com características únicas o couro reinventa-se ao longo dos tempos, respondendo às necessidades do Homem a cada momento, renovando o seu valor, num contexto de alta modernidade pela afirmação cientifica da sua intrínseca sustentabilidade”, sublinhou o secretário-geral da APIC (Associação Portuguesa de Curtumes).