A indústria portuguesa de calçado vai refinar a estratégia para conquistar novos mercados. As conclusões de dois estudos foram ontem apresentadas no Museu Nacional Soares dos Reis, no Porto.
A começar, a EY Parthenon sugere, no estudo de mercado “Os caminhos da indústria de Calçado em direção Luxo” que reduzir os custos ou evoluir para novos segmentos de mercado são duas vias possíveis para que Portugal se possa posicionar como um player relevante no setor de calçado de luxo. Já a Universidade Católica do Porto através do seu Centro de Estudos, no âmbito do Plano Estratégico Cluster do Calçado 2030, alerta que “o esforço de promoção internacional, seja ao nível da indústria, seja ao nível individual, carece de foco geográfico”.
De acordo com a Universidade Católica “mercados em crescimento oferecem melhores perspetivas de sucesso comercial”. Feitas as contas, “as perspetivas de evolução da população e do PIB per capita de cada país sugerem que, na próxima década, será sobretudo na Ásia e em África que o consumo de calçado mais aumentará”. Já entre as economias avançadas, “os EUA são o país que oferece melhores perspetivas, nomeadamente quando se considera adicionalmente a dimensão do mercado”. A Católica admite que “o mercado potencial do calçado português é constituído pelos consumidores que têm um rendimento igual ou superior à média do PIB per capita dos países da OCDE em 2020, ou seja, cerca de 38 500 dólares”.
Com base na informação disponível, estima-se que haja no mundo 145 cidades que albergam mais de 500 mil clientes potenciais, para o calçado português. Cerca de 2/3 dos investimentos do setor deverá centrar-se na Europa ou EUA, mas também há oportunidades identificadas na Coreia do Sul e no Japão. São, aliás, já esses os mercados que motivarão uma abordagem profissional do calçado português já a partir de julho, primeiro em Seoul, depois em Atlanta, e Tóquio no início do próximo ano.
De acordo com o Presidente da APICCAPS “é preciso reconhecer que o mercado internacional do calçado está em profunda transformação, passando por alterações nos hábitos de consumo, assim como na afirmação de novos modelos de negócio”. O grande imperativo do setor do calçado passa pelo “reforço muito substancial da presença nos mercados internacionais, para onde exportamos mais de 90% da nossa produção”. Adicionalmente, “a qualidade dos nossos produtos tem de atingir patamares superiores, irrepreensíveis, para que possamos chegar aos mais exigentes mercados”. “Acredito que é possível voltarmos a dar um salto qualitativo e reforçarmos a nossa posição na cena competitiva internacional”, sublinhou Luís Onofre.
O diagnóstico
De acordo com a EY Parthenon, “o aumento dos custos e a intensificação da concorrência ameaçam o setor do calçado”. Em resultado, o setor terá de “rever o seu posicionamento”. Para alcançar a sustentabilidade financeira do setor, a redução dos custos de produção é uma das vias. Para isso, importará “aumentar a escala com integração de vários players”. A outro novo, a EY sugere “aumentar a produtividade através de novos processos industriais” e “otimizar o custo da mão-de-obra subcontratando parte no exterior”. Por fim, as empresas poderão “diminuir os custos das matérias-primas através da inovação do produto”.
Do ponto de vista estratégico, a EY Parthenon realça a necessidade de “aumentar o preço médio de venda”. “Explorar segmentos de maior potencial acrescentado”, “explorar novas geografias” e “explorar novas fases da cadeia de fornecimento” são três vias possíveis.
Negócios de luxo
A produção mundial de calçado é dominada pelos países asiáticos, sendo a China responsável por praticamente 55% da produção global. Em valor, o mercado de calçado ascende a 398 mil milhões de dólares, 8% dos quais gerados pelo segmento de calçado de luxo. De acordo com a EY Parthenon no estudo de mercado “Os caminhos da indústria de Calçado em direção Luxo”, Portugal é uma forte alternativa a Itália. Para este reposicionamento deverá intervir em três níveis: desenvolvimento da produção, desenvolvimento comercial e inovação.
“Criação de reputação no calçado de luxo”, “cumprimentos estrito das normas ESG”, “preço competitivo”, “elevada agilidade e flexibilidade”, “confidencialidade”, “transparência”, “Excelente serviço de cliente care”, e “produto de qualidade máxima” são algumas das exigências necessárias. No estudo de mercado, a EY recorda que “quer Portugal, quer Itália conseguem oferecer qualidade e reputação elevada, mas Portugal apresenta menores custos de produção”.
De acordo com a EY, se a indústria portuguesa crescer ao mesmo ritmo da Itália poderá passar a exportar mais 1.200 milhões de euros por ano. “Os produtores portugueses com mentalidade e know-how conseguirão entrar no mercado de luxo, oferecendo preços mais competitivos do que Itália”, sustenta.