No dia 12 de Novembro de 2005, no Centro de Congressos de Lisboa, a AESE reuniu um grupo de cerca de 500 gestores para reflectirem sobre o “Caso Portugal”.
Pretendia-se neste dia de trabalho contribuir para identificar quais as atitudes, decisões e medidas que os gestores e profissionais presentes no evento, no âmbito das suas responsabilidades, deveriam assumir de forma a contribuir para que Portugal encontre novamente um trajecto de crescimento e desenvolvimento.
Precisamente na véspera, a 11 de Novembro, morreu Peter Drucker aos 95 anos na sua casa em Claremont na Califórnia.
No âmbito desta reflexão sobre qual deve ser o nosso contributo para permitir que o país reencontre um trajecto de desenvolvimento, faz sentido ter presente as recomendações de Peter Drucker relativamente à responsabilidade dos profissionais do conhecimento, nomeadamente os gestores e os empresários, no contexto da realidade das sociedades do século XXI.
Se a questão fundamental nesta economia do conhecimento é a qualidade e a excelência, o grande desafio que se nos coloca é saber de que forma poderemos dar a nossa melhor contribuição possível.
Para respondermos a esta questão, deveremos, segundo Peter Drucker, colocar as seguintes questões:
- Primeiro, temos que perguntar, no âmbito das nossas responsabilidades, qual é o nosso contributo. Este contributo deve fazer a diferença e deve ser visível. E não se trata de um qualquer contributo. Trata-se de o melhor contributo de que se é capaz.
- Segundo, temos que, com autonomia, assumir a responsabilidade do nosso contributo em termos de gestão do tempo e de qualidade do trabalho desenvolvido.
- Terceiro, a inovação é parte da nossa responsabilidade e somos responsáveis pela nossa aprendizagem permanente.
Finalmente, o trabalho desenvolvido é avaliado essencialmente em termos qualitativos. O importante é a qualidade e a excelência.
Neste contexto surge como uma grande exigência a capacidade de nos gerirmos a nós mesmos. E para isso temos vários desafios.
O primeiro é que só podemos ter uma boa performance se soubermos quais são as nossas forças. Como refere Peter Drucker, “a concentração deverá ser feita em áreas de grande competência e elevado talento. É necessária muito mais energia e muito mais trabalho para passarmos de uma fase de incompetência para uma competência mediana do que para passarmos de um nível bom de performance para patamares de excelência.
A energia, os recursos e o tempo deverão ser usados para transformar pessoas competentes em pessoas com níveis excepcionais de competência.
Este desafio não é óbvio e não é fácil. Muitos profissionais escolhem a área onde desenvolvem o seu trabalho não com base nos seus talentos mas por tradição familiar ou porque foi o que aconteceu em virtude de circunstâncias fortuitas.
Construir as nossas competências sobre os nossos talentos, sobre aquilo em que somos fortes, pressupõe um conhecimento pessoal.
O segundo desafio é a forma pessoal de trabalhar.
Como refere Peter Drucker, as pessoas são boas fazendo aquilo em que são boas mas também fazendo-o como se sentem bem a fazer.
Somos diferentes na maneira como aprendemos e agimos e temos que ajustar a forma como trabalhamos e estamos às nossas características inatas.
A propósito deste assunto, Peter Drucker aconselha a que não nos tentemos mudar, mas sim a trabalhar arduamente para melhorarmos a forma como realizamos e concretizamos.
Em síntese e perante uma situação concreta, cada um de nós deverá responder às seguintes questões:
O que é que esta oportunidade exige? Como posso dar a maior contribuição possível com as minhas forças, a minha forma de trabalhar e os meus valores? Que resultados tenho que alcançar para fazer a diferença?
Finalmente, os diversos objectivos que temos na vida devem ser alcançados de forma equilibrada. Numa perspectiva de médio prazo, uma pessoa que valorize apenas um objectivo em detrimento dos outros compromete a sua força e vitalidade.
A nossa vida é feita de várias dimensões: a família, o trabalho, os amigos, a aprendizagem, a espiritualidade e a saúde. A nossa criatividade e capacidade em qualquer destas dimensões dependem do desenvolvimento de todas as outras.
Há assim a necessidade de os objectivos nestas diferentes dimensões serem alcançados de forma equilibrada.
Uma leitura da vida que previlegie uns objectivos comprometendo outros, numa perspectiva de médio prazo tem consequências negativas.