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Alta-costura desfila sem peles e rejeita alternativa sintética

quinta-feira, 11 de julho de 2019
Alta-costura desfila sem peles e rejeita alternativa sintética

Presença habitual no evento, as peles de animais ficaram de fora da mais recente edição da Semana de Alta-Costura de Paris. No evento parisiense, os criadores de moda mostraram também estar a rejeitar a alternativa sintética, devido ao seu caráter pouco ecológico.

A grande ausência da Semana de Alta-Costura foram as peles de animais, que durante décadas fizeram parte das coleções de outono-inverno que se apresentavam nas passerelles parisienses. Outra ausência significativa foram as peles falsas, noticia a AFP. O conjunto de designers que desenha as peças mais dispendiosas e exclusivas de todo o mundo parece ter dado mais um passo para um futuro livre de peles.
Jean Paul Gaultier

Tendo renunciado às peles em novembro, Jean Paul Gaultier substituiu-as de forma extravagante por penas, com as peles a darem também lugar ao estampado animal. «São peles falsas. Uma forma de enganar a vista. Nenhum animal foi morto ou massacrado para este desfile», esclareceu o designer francês.

Já a criadora de moda italiana Sofia Crociani provou que é possível dar o mesmo aspeto e toque das peles a partir de fibras naturais, sem recorrer a peles falsas sintéticas, um subproduto da indústria petrolífera. No seu desfile, apresentou casacos e vestidos criados a partir «de uma mistura entre seda e caxemira e seda e pelo de camelo», revelou. Segundo a designer, «todas as matérias-primas são sustentáveis e naturais. Apenas usamos as peles dos animais que comemos». Sofia Crociani recusa-se a usar peles falsas, referindo que é impossível fugir do facto de que «são plásticos, que não funcionam para mim, nem sequer reciclados».

«Não há nada de ecológico nas peles falsas»

Tendo dedicado, no ano passado, uma coleção às peles falsas, a Givenchy chegou à mesma conclusão de Sofia Crociani. «Eu sei que é uma boa alternativa, mas não sei até que ponto é que, do ponto de vista ambiental, é a melhor opção. Prefiro esperar que apareça algo mais sustentável», considera Clare Waight Keller, diretora artística da Givenchy. A casa de moda irá manter os artigos em couro e em lã, «que é um subproduto da indústria alimentar. Se não for usada, será desperdiçada», justificou.

Stella McCartney foi pioneira no vestuário vegan, que a criadora de moda garante ter a mesma qualidade que as peles verdadeiras, ainda que reconheça que existe uma desvantagem do ponto de vista ambiental. «Temos consciência que o produto em si não é biodegradável. Nesse sentido, encorajamos os consumidores a terem cuidados com as suas peças, nunca as deitando fora. Luxo não é sinónimo de lixo – significa para sempre», insistiu a designer.

Para Maurizio Galante é «absolutamente idiota» usar peles falsas «que advêm do petróleo. Não é, de todo, bom para o meio ambiente. Ou se usa peles verdadeiras ou não se usa». O designer italiano optou por, através técnicas avançadas de corte, imitar a pele de jaguar, numa das peças que apresentou no seu desfile em Paris. Já o designer holandês Ronald van der Kemp foi mais longe, apresentando um bolero em estampado leopardo e um turbante a partir de colchas usadas. Para Maurizio Galante, «as peles já não têm espaço nas nossas vidas. O mundo mudou e com isso também a nossa atitude em relação ao clima, ecologia e respeito pelos animais».

Já a designer francesa Julien Fournie, que sempre adorou peles, parou de as usar há cinco anos, porque não conseguia ter garantia das suas origens. «Mesmo que as peles verdadeiras sejam aparentemente mais ecológicas do que as peles sintéticas – as peles falsas demoram 6 mil anos a desaparecer e as peles verdadeiras 600 anos , a dificuldade na rastreabilidade é um problema para mim», avançou. Giambattista Valli é igualmente intransigente. «Não há nada de ecológico nas peles sintéticas. São poluidoras», sublinhou.
Giambattista Valli

Jean Paul Gaultier não excluiu a hipótese de um dia reciclar as suas peles pós-consumo ou optar por usar peles verdadeiras novamente, «caso tudo seja feito corretamente e, obviamente, não usando espécies em perigo de extinção. Eu gosto muito do toque das peles, mas, para já, precisamos de nos acalmar. Vivemos numa altura em que há muito de tudo, por isso não deveríamos estar a matar animais».

O porta voz da Federação Francesa de Ofícios das Peles, Pierre-Philippe Frieh, garantiu que a única razão para a ausência das peles das passerelles é o «clima de terror» criado pela PETA, grupo de defesa dos animais. «Os criadores de moda têm medo de usar peles devido às ameaças deste grupo», declarou. Pierre-Philippe Frieh assinalou ainda que há uma nova geração de designers a optar pela utilização de peles. «Kim Jones, na Dior, e Virgil Abloh, na Louis Vuitton, fizeram algumas coleções para homem usando peles, o que prova que vivemos numa altura de renascimento das peles no mundo da moda», insistiu.

Fonte: https://www.portugaltextil.com;10jul2019
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