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The Shoe Surgeon: Vogue entrevista Dominic Ciambrone, o customizador de sneakers favorito das celebridades

Na sua primeira passagem pelo Brasil, Dominic fala sobre sustentabilidade, a encomenda mais estranha que recebeu e o par que está a fazer para Neymar

segunda-feira, 20 de maio de 2019

The Shoe Surgeon: Vogue entrevista Dominic Ciambrone, o customizador de sneakers favorito das celebridades

Mais conhecido como The Shoe Surgeon (o cirurgião de sapatos), Dominic Ciambrone é um dos grandes nomes da cena sneakerhead norte-americana. Os tênis customizados pelo designer – daí o nome artístico – estão nos pés de artistas como Justin Bieber, Drake, ASAP Rocky, entre muitos outros. Um par de sneakers concebido por Ciambrone pode custar até US$ 10 mil e marcas como Nike e Adidas estão sempre na disputa pela agenda concorrida do designer, que também possui uma escola própria em Los Angeles, onde mora, para ensinar o ofício.

Uma das suas colaborações mais recentes foi com a Nova Kaeru, empresa brasileira de couros exóticos e biosustentáveis, localizada no Rio de Janeiro. Dominic customizou um modelo da Nike com um tecido semelhante ao couro, feito a partir do curtimento da folha de orelha-de-elefante. Batizado de BeLeaf, o material recebeu recentemente em Hong Kong o prêmio Best Leather & Material da APFL Awards 2019 e, a convite da marca, o designer passou a semana na cidade carioca, nesta que foi a sua primeira visita ao Brasil. 

Durante a visita, a Vogue conversou com Dominic sobre seu processo criativo, a sua escola de customização, a relação com as celebridades, entre outras coisas.

Qual é a sua primeira memória de um sapato?
Lembro-me de usar um modelo Air Jordan 1, de 1985, do meu primo mais velho para ir à escola. Tive um retorno tão positivo sem nem ter de abrir a boca que soube na hora que precisaria manter esse sentimento vivo.

De onde surgiu o nome The Shoe Surgeon?
Quando tinha 19 anos, estava a regressar com meu irmão e o meu melhor amigo de uma viagem de Nova York e começamos a pensar num pseudônimo. Escrevemos todas as coisas que já tínhamos feito ou pretendíamos fazer com sapatos e acabamos por chegar a Shoe $urgeonz, com $ e um Z.

Como descobriu a Nova Kaeru?
Foi através de um amigo. Sinto-me grato por ter conhecido tantas pessoas incríveis nesta indústria.

Qual foi a parte mais interessante desta colaboração?
Tenho trabalhado para descobrir métodos sustentáveis para a fabricação e design de calçado por mais de 10 anos, desde sapatos reparáveis até materiais, então gostei do desafio. Esta não é uma tarefa fácil e nem a mais lucrativa, mas sei que isso levará a indústria adiante.

Esta é a sua primeira vez no Brasil. Teve tempo de conhecer o Rio?
A viagem foi curta e estou um pouco triste por não ter ficado mais tempo. O Rio é uma cidade incrível. A comida, a água, o ar... tudo. Fiz um passeio de helicóptero para ter a mesma visão dos olhos dos pássaros. Há muita inspiração aqui. Quero voltar para dar aulas ou fazer um workshop, e realmente dormir na praia (risos).

Que tipo de sneakers você acha que mais combinam com os brasileiros?
Eu estou a fazer uma versão mash up do Air Jordan 1 com o Tiempo para o Neymar, então diria que esse estilo combina mais.

Qual é o maior desafio em trabalhar com celebridades e personalidades tão diferentes?
Conseguir entregar um produto incrível e que exceda as expectativas.

Entre os seus projetos recentes, poderia destacar algum?
Diverti-me muito na colaboração com a Nike para criar o 100K Gold Shoes de presente para o Lebron James.

Qual foi o pedido mais estranho que você já recebeu?
Uma vez me pediram para moldar o rosto do rapper Rif Raf nas solas de um par de tênis. Eu nunca fiz, mas achei uma loucura esse pedido.

Quantas horas, em média, são necessárias para criar uma peça?
Alguns sapatos podem levar dias ou meses, mas o meu par perfeito levará uma vida inteira para ser concebido.

Quando começou a Shoe Surgeon School?
Surgiu há cerca de 3 anos. Eu nunca tive a oportunidade de aprender tudo o que eu sei numa escola. Fui rejeitado e deixado de lado por muitos e não gostei da escola tradicional. Aos 20 anos de idade conheci Michael Anthony, um fabricante de botas que virou meu mentor, e sempre falamos em construir uma escola de comércio para ensinar o ofício.

Como explicaria a essência da escola?
Todos vêm aprender o processo de fabricação de sapatos, mas saem com algo mais. De superar a dúvida do eu, apenas sentir-se vivo novamente. As aulas são destinadas a colocar todos num estado de espírito positivo e construir uma comunidade. Durante a aula, cada aluno se torna parte de nossa família.


Quem são esses alunos?
Qualquer pessoa. De um rapaz de 14 anos que conseguiu que sua cidade patrocinasse o seu curso a um senhor de 72 anos que queria criar uns sapatos para a sua filha. Temos todos os caminhos da vida e é por isso que é tão incrível. Designers, crianças, adultos, donos de empresas, tatuadores e muito mais. A melhor parte é que todos vêm para aprender, mas saem como uma família.

Tem apoiado iniciativas sustentáveis?
Tenho sim, cada vez mais. Começamos a fazer sapatos "esfarrapados" de couro e eles ficam ótimos. Também fazemos muitas doações de sapatos a sem-abrigo e estamos a trabalhar na criação de um material a partir do lixo, para ajudar o mercado e mostrar ao mundo os produtos sustentáveis.

O que vai fazer depois daqui?
Sigo para Hong Kong para dar um workshop de customização sustentável em parceria com a Farfetch. Depois vou a Paris dar o meu primeiro curso sobre o Air Jordan. Também tenho desenvolvido novos cursos, trabalhado em iniciativas para construir um futuro mais sustentável, desenvolvendo uma linha de roupas e a minha própria marca de calçado. Posto tudo isto no Instagram @shoesurgeonshoeschool.

Alguma palavra final? Objetivos para o futuro?
Quero continuar a inspirar pessoas a encontrar a sua paixão. Ensinar e ajude os outros. Acredito que é importante ajudar as pessoas ao longo da vida e não esperar para ajudar depois quando se está "no topo".

Fonte: Vogue
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