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Vietname cede ao luxo

sexta-feira, 15 de fevereiro de 2008
Vietname cede ao luxo

O mercado de Luxo no Vietnam está em crescimento acelerado.
Num país onde um exército de camponeses marchou em chinelos cortados de pneus velhos, as sandálias de praia da Gucci de 250 euros podem ser um choque.

Com o Vietname a começar a acolher as empresas privadas, os seus novos-ricos estão “loucos” pelos sapatos Gucci, malas Louis Vuitton e relógios Cartier, dando uma prova de quanto o país mudou após décadas de guerra. «Vendi recentemente um casaco em pele de 2 700 euros», revela Du Huong Ly, uma jovem vendedora na loja Roberto Cavalli em Hanoi. «Os nossos clientes querem que as pessoas saibam que eles são de classe alta».

Depois dos anos 80, o governo que anteriormente geria todos os assuntos económicos tem introduzido reformas de liberalização dos mercados e tentado atrair investimento estrangeiro, e com estas vieram novos estilos e atitudes ocidentais.

«Os membros da nova geração querem apreciar a vida e mimar-se com coisas luxuosas», refere Nguyen Thi Cam Van, de 39 anos, que comprou cinco malas Louis Vuitton de 700 euros. «Se posso dar-me ao luxo de comprar alguma coisa gira, isso faz-me sentir orgulhosa», diz Van, que trabalha na Siemens e é também consultora de uma empresa de importação vietnamita. Como curiosidade, refere ainda que uma das suas amigas tem mais de 50 malas Louis Vuitton.

Alguns dos viciados em compras vietnamitas são jovens que trabalham para multinacionais mas que ainda vivem sem encargos em casa dos pais. Outros trabalham para grandes empresas do Estado e muitos fizeram fortuna no pequeno mas dinâmico sector privado. E são habituais clientes da Dolce&Gabbana, Burberry, Escada, Rolex, Clarins e Shiseido, entre outras.     
 
Nas últimas duas décadas, desde que o Vietname começou a implementar as reformas económicas, a taxa de pobreza do país diminuiu para metade, e o rendimento per capita duplicou nos últimos cinco anos.
Ainda assim, «os ricos estão cada vez mais ricos, e os restantes estão a lutar com um rendimento reduzido», diz Dao Quang Hung, um taxista de Hanoi. «O dinheiro que gastam numa mala Louis Vuitton dava para comprar várias vacas para uma família de agricultores e tirá-los da pobreza».

Na nova loja da Gucci na cidade de Ho Chi Minh, os chinelos estão entre os artigos económicos. Os funcionários vestidos de preto, que parecem saídos de uma passerelle em Milão, oferecem um par de sapatos de salto dourados por 525 Euros. Pode também ver-se um vestido Dolce&Gabbana do ano passado por 36 000 euros, um de três no mundo, de acordo com o director de marketing Dang Tu Anh, que representa ambas as lojas. «Os outros, foram usados por Nicole Kidman e Victoria Beckham», revela Anh, acrescentando ainda que os melhores clientes da loja não hesitam em pagar 5.000 dólares por uma carteira ou um par de sapatos.

A geração mais velha do Vietname, moldada pelas dificuldades da guerra, considera anormal esta tendência de consumo dos jovens vietnamitas. «Agora a nova geração no Vietname está na corrida pelo prazer material», afirma Huu Ngoc, professor e escritor vietnamita. «O individualismo está a destruir a nossa identidade cultural. Podemos ficar ricos mas iremos perder a nossa alma».

A geração da guerra não desperdiçava nada e sempre poupou para o futuro, convencidos que a catástrofe estava à espreita em cada esquina. Mas os estudos de opinião mostram que 60% dos vietnamitas nascidos após 1975 são muito optimistas quanto ao futuro – e determinados a desfrutar aqui e agora.

Nguyen Thi Cam Van, por exemplo, gosta de se mimar no salão com massagens e manicura. Mas vive com receio de que o seu pai, um professor universitário, saiba das suas cinco malas Louis Vuitton. «Não lhe posso dizer que as tenho. E nunca lhe poderei dizer quanto custaram. Ele acharia que eu era completamente doido».

As ambições desta consumidora são modestas quando comparadas com as da super elite do Vietname, que circula no símbolo último de status: um vistoso BMW ou Mercedes-Benz. E paga em dinheiro vivo. «Na América paga-se em prestações», refere Nguyen Hoang Trieu, vendedor de automóveis de luxo na cidade de Ho Chi Minh, antiga Saigão, acrescentando que «aqui, paga-se tudo de uma vez e em dinheiro. Às vezes as pessoas chegam aqui com 300 000 euros numa mala».


Fonte: Portugal Têxtil 15. Fev.08
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