“Open your mind”. Para a Comissão Europeia, convidar os jovens a “abrir a
mente” é a fórmula certa para atrair novas vocações para o têxtil,
vestuário, couro e calçado, quatro sectores fundamentais na economia da
UE, com mais de 225 mil empresas que empregam dois milhões de pessoas e
faturam 200 mil milhões de euros por ano.
E é,
também, o nome do novo projeto apresentado recentemente no Porto, para
dar a conhecer oportunidades de carreira em áreas relacionadas com a
inovação e tecnologias digitais nestes setores estratégicos, no âmbito
da New Skills Agenda for Europe. O que promete? “Apresentar às novas
gerações milhões de oportunidades de emprego através de uma campanha
lançada a nível europeu".
O objetivo? “Criar e
promover uma cooperação nova e estratégica entre os principais parceiros
(empresas, sindicatos, instituições de investigação, educação e
formação e entidades públicas), estimulando ações concretas para
satisfazer as necessidades de recursos humanos a curto e médio prazo,
abordando disparidades entre a formação e as necessidades do sector e
apoiando a estratégia destes sectores”.
Assim,
com este “Open your mind”, a Comissão Europeia quer preencher as lacunas
existentes entre as necessidades da indústria em termos de
conhecimentos técnicos e a formação existente, proporcionando planos de
ação e programas de formação que promovam aptidões tradicionais
(trabalho manual e artesanato) e inovação (digital, ambiental,
técnica)”, diz o texto de apresentação da iniciativa, deixando claro que
trabalhar na indústria no século XXI também é trabalhar em marketing
digital, logística, design, informática. Há até um quadro de profissões
que podem ser apelativas para trazer os jovens até estas indústrias, do
gestor de comunicação de moda, ao supply chain analyst , modelador
têxtil, designer de acessórios em pele ou designer em CAD 3D.
Aliás,
o projeto quer, também, “mostrar a atratividade destes sectores em
termos de oportunidades de carreira”, “fornecer metodologias inovadoras
de educação e formação, utilizando ferramentas digitais, como jogos
online, webinars e redes sociais”, “promover e melhorar a mobilidade
transnacional em termos de formação e emprego”, o que significa usar
ferramentas comunitárias como o Erasmus e as Alliances for Traineeships.
Executado
pela EASME (Executive Agency for Small and Medium-sized Enterprises) e
pela DG GROW (Directorate General for Internal Market, Industry,
Entrepreneurship and SMEs), o programa vai decorrer em seis países,
incluindo Portugal, onde acaba de ser lançado no mesmo palco onde
decorre o Portugal Fashion, um evento que tem procurado cruzar moda e
indústria, mas abrange, também, Espanha, Itália, Alemanha, Polónia e
Roménia.
Ao todo, estão previstos 72
eventos em 60 locais destes seis países e uma campanha de comunicação em
6 línguas diferentes, sem esquecer o recurso às redes sociais e a
necessidade de ajudar as diferentes regiões a especializarem-se nos
sectores em que são mais competitivas.
Do lado
português, entre as iniciativas previstas para acabar de vez com a
imagem de “indústria obsoleta” ligada a esta fileira, há visitas a 3
empresas de referência da indústria têxtil e do calçado, a Riopele, a
Calvelex e a Kyaia. As escolas de formação APIC (curtumes) e MODATEX
(têxtil), a Universidade de Aveiro, Modtissimo, Moda Lisboa e Portugal
Fashion também serão palco deste programa para atrair novas vocações.
Portugal
tem uma presença dupla no comité de direção do projeto, através da
APICCAPS - Associação Portuguesa dos Industriais de Calçado,
Componentes, Artigos de Pele e Sucedâneos, a única associação industrial
europeia neste grupo de trabalho, representada pelo seu diretor de
comunicação, Paulo Gonçalves, e do CICECO - Instituto de Materiais de
Aveiro e do seu coordenador José Martinho Marques de Oliveira.
A
necessidade de atrair vocações para a indústria é uma preocupação
recorrente em muitos sectores. No caso do calçado o tema foi mesmo uma
das frentes de trabalho assumidas pela direção da APICCAPS e pelo seu
presidente, Luís Onofre, tendo já levado à realização de campanhas
específicas em zonas de forte implantação do sector, como Felgueiras, S.
João da Madeira e Oliveira de Azeméis.
NA
conferência da ITMF, o maior congresso têxtil do mundo, no Porto, Isabel
Furtado, CEO da TMG Automotive também deixou um alerta para o problema
da mão de obra, assumindo que um dos desafios da fileira é precisamente o
de convencer as gerações mais jovens de estão a entrar num cluster de
modernidade.
Um estudo da comissão europeia
conclui que até 2030 está fileira vai precisar de 400 mil postos de
trabalho só na produção. E isto é basicamente substituição geracional
porque 20% dos trabalhadores das empresas destes sectores têm mais de 55
anos.
O sector da moda é pioneiro neste
trabalho, mas Comissão Europeia está a trabalhar com outros sectores.
Vai haver iniciativas similares para a indústria automóvel, turismo e
tecnologia marítima. Para o ano entram em cena a construção e indústria
cirúrgica.