Apesar do clima de recessão no plano internacional, as exportações portuguesas de calçado continuam a revelar um desempenho muito positivo. De Janeiro a Novembro de 2008, as vendas de calçado português nos mercados externos ascenderam a 1.266 milhões de euros, o que representa um acréscimo de 2,2% relativamente ao período homólogo do ano anterior.
Nota de grande destaque para o crescimento de 13,3% do preço médio do calçado exportado. Portugal reforça, assim, a sua posição no plano externo, perfilando-se como o segundo país com o maior preço médio do calçado exportado, logo a seguir a Itália.
Este valor confirma, assim, que são as exportações nos segmentos mais altos de mercado que estão a alavancar as exportações portuguesas de calçado, validando, deste modo, a estratégia do sector de migração da produção para segmentos de maior valor acrescentado.
Neste período, o calçado reforçou também a sua posição como o produto que mais positivamente contribui para a balança comercial portuguesa, com um saldo líquido de 775 milhões de euros (recorde-se que o défice externo é um dos principais problemas estruturais da economia portuguesa). A indústria do calçado exportou, neste período, mais de 91% da sua produção, assumindo-se assim como o sector mais extrovertido da economia portuguesa. O ano de 2008 foi o terceiro consecutivo de aumento das exportações (crescimento acumulado de 10,5% desde 2005)
Comparativamente a outros sectores de actividade, a indústria de calçado registou, em 2008, um dos melhores desempenhos. Com efeito, de Janeiro a Novembro do ano passado, há a assinalar quebras importantes das exportações em outros sectores de actividade de referência como o sector de material eléctrico e electrónico (menos 2,7% para 6.710 milhões de euros), a indústria automóvel (menos 1,3% para 4.472 milhões de euros), e a indústria da madeira e da cortiça (menos 4,5% para 1.427 milhões de euros).
Comportamento por mercados
Por mercados, as exportações portuguesas estão a crescer fundamentalmente na Alemanha (mais 2% para 230 milhões de euros), na Holanda (mais 8,4% para 137 milhões de euros), em Espanha (mais 5,2% para 108 milhões de euros) e na Dinamarca (mais 1,7% para 51 milhões de euros). Fora do espaço europeu, nota de destaque para os crescimentos em Angola (mais 18% para 13 milhões de euros), na Rússia (mais 3,7% para 13 milhões de euros) e no Japão (mais 43% para 4,3 milhões de euros). No total, Portugal exportou calçado para 113 países. No plano inverso, à já esperada quebra das exportações no Reino Unido (menos 12,9% para 114 milhões de euros) e EUA (menos 27,4% para 9,6 milhões de euros), por força da valorização do euro, há a acrescentar uma perda em França (menos 10% para 312 milhões de euros). O mercado francês, um dos mais importantes para a indústria portuguesa de calçado foi, de entre todos, aquele que mais sentiu as contingências da crise económica mundial, com uma forte quebra ao nível do consumo e das importações.
Contrariar as previsões mais negativas
O aumento das exportações de calçado em 2008 vem, assim, contrariar todas as expectativas mais negativas, designadamente as publicadas no Boletim Trimestral de Conjuntura da APICCAPS, da autoria do Centro de Estudos de Gestão e Economia Aplicada da Universidade Católica do Porto, na sequência de um inquérito efectuado a largas dezenas de empresas do sector.
Para 2009, as previsões apontam para uma estabilização do estado de negócios. No entanto, o número de empresas que prevê uma redução da actividade exportadora supera largamente aquelas que acreditam num aumento da posição relativa de Portugal nos mercados internacionais.
Para voltar a contrariar as tendências negativas, a APICCAPS e a AICEP, com o apoio do Programa Compete (QREN), têm em curso a mais ampla ofensiva promocional de sempre do calçado português no exterior. Desde o início do ano, mais de 120 empresas estão a participar em mais de 80 feiras internacionais, num total de 15 mercados, e que pressupõe um investimento global de 8,5 milhões de euros.
Ganhar quota de mercado na Europa
Em 2008, Portugal voltou a ganhar quota de mercado aos seus principais concorrentes, designadamente a Itália, que teve um crescimento das exportações de 1,5%, e a Espanha, que registou uma queda de 4%.
A indústria portuguesa de calçado representa, actualmente, 5% da produção, 7% das exportações e 17% do emprego a nível europeu.