A remuneração média da indústria do calçado foi, em 2013, de 715,63 euros, o que representa um aumento de 15% nos últimos cinco anos. Em 2008, o salário médio praticado situava-se nos 621,71 euros. Dados adiantados pela Associação dos Industriais de Calçado, Componentes, Artigos de Pele e seus Sucedâneos (APICCAPS), à margem da Micam, a maior feira do sector, que decorre até quinta-feira em Milão. A delegação portuguesa, que reúne 88 empresas, é hoje visitada pelo ministro da Economia, António Pires de Lima.
“É interessante ver que, num momento em que se fala em reduções nominais de salários no país, e apesar de não haver contratação coletiva há vários anos, o mercado se encarrega de remunerar os fatores produtivos, de forma espontânea, bem acima da inflação”, afirmou ao Dinheiro Vivo o diretor geral da APICCAPS. Para Manuel Carlos, isto merece reflexão. “De algum modo, vem colocar a questão do papel da contratação coletiva e da sua eficácia. Enfim, dos modelos tradicionais e do casamento de papel passado ”, defende.
Refira-se que a última vez que o sector negociou um contrato colectivo foi em 2011 e que, desde então, a imposição das regras da troika impedindo as portarias de extensão [mediante as quais, os aumentos negociados pelas associações profissionais com os sindicatos não obrigam apenas as empresas associadas e os trabalhadores sindicalizados, mas estendem-nos a todo o universo do sector] tem complicado a sua renegociação.
“Qualquer acordo a que se chegue só obriga os membros da associação que assina o contrato e só abrange os trabalhadores sindicalizados”, explica João Maia. Diretor executivo da APICCAPS, sublinhando que isto levaria a “distorções significativas à concorrência”. Mas, apesar disso, os salários continuam a aumentar na indústria. Basta ver que o salário médio estabelecido em contrato coletivo é de 514,58 euros, mas o salário médio efetivamente pago foi de 628,78 euros em 2013. Com as restantes parcelas, como o subsídio de alimentação, o rendimento médio atinge os 715,63 euros.
Recorde-se que os sindicatos reclamam este ano um aumento da massa salarial de 10%, mas a indústria continua sem fazer qualquer contra-proposta. “Enquanto não houver garantias de que haverá portarias de extensão, é difícil avaliar o impacto que isto teria no sector como um todo”, sublinha o diretor executivo da APICCAPS.
Joaquim Moreira, sócio-fundador da Felmini, empresa de calçado de Felgueiras e a marca portuguesa que mais vende em Itália, continua a contratar novos trabalhadores e a fazer atualizações salariais todos os anos. Só este ano, em dois meses, já meteu mais dez pessoas, que se somam a igual número de novos contratados em 2013. E quanto a aumentos? “Damos pouquinho, mas damos sempre alguma coisa. Para nós é importante termos um ambiente de trabalho descontraído e os colaboradores permanentemente satisfeitos. O nosso calçado tem uma grande dose de trabalho manual e se não houver motivação, o artigo não sai bem”, garante Joaquim Moreira. Com 200 trabalhadores, o empresário não fala em operários, mas “numa família alargada”. “Sem eles não conseguia fazer o que faço”, sublinha.
Também Luís Onofre reforçou o seu quadro de pessoal em 2013, com cerca de uma dezena de novos trabalhadores, e admite este ano abrir uma nova secção de corte e costura. Atendendo à situação que se vive, acredita na necessidade de aposta “bastante forte” na formação técnica, mas também que o Estado devia conceder benefícios às pessoas “que queiram trabalhar no sector”. E quanto a aumentos salariais na sua empresa? “Não sou apologista de aumentos salariais. Prefiro uma política de recompensa, de distribuição de lucros, ao final do ano se as coisas correrem bem”, diz.